Apesar da proximidade com a praia, aquele era um lugar sombrio. Sombrio mesmo, com inicial minúscula, longe da luz. Mas a ação que se iniciava não: nem minúscula, nem sombria! Era o lugar perfeito (apesar do medo que dava de estar ali) para dar descanso ao corpo frágil que morreu nas minhas mãos: dava para ouvir o mar ao longe, e uma brisa fresca que acalmava. A sombra perfeita para o sono eterno.
Aquele corpo que pesava em minhas mãos desejava descanso, que é o que os corpos sem vida desejam. E eu também desejava descanso, mas não em uma sombra, e não para o meu corpo. Era a minha alma que precisava descansar, e era de luz que ela precisava. E eu torcia que alguma divindade iluminasse minha alma, se é que as divindades iluminam almas no litoral de Santa Catarina.
Se elas iluminam, talvez tenha sido alguma divindade querendo música que guiou o pequeno pássaro de encontro à minha bicicleta. E ele sofreu pouco ao morrer, pois eu pedalava mais rápido do que ele voava, e foi um baque forte. Eu vou lento agora, com o pássaro morto n'uma mão, e o guidão na outra. Com esta mão guio o corpo dele, e com a outra guio a minha alma.
*Texto originalmente submetido (não foi premiado) ao Concurso Cultural "Cidades de nomes mais bonitos e misteriosos do Brasil", em 27/Junho/2012, http://goo.gl/TOaVZJ